sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Johnson & Johnson é condenada a multa de US$ 572 mi por propaganda enganosa sobre opioides


A empresa Johnson & Jonhson, gigante do setor farmacêutico dos EUA, foi condenada no dia 26 de agosto pelo juiz Ted Balkman, do condado de Cleveland, em Oklahoma, por ter promovido de forma enganosa o uso de analgésicos legalizados que, contudo, viciam seus usuários. De acordo com a sentença, a J&J terá que pagar uma multa de US$ 572 milhões, a serem destinados a programas de combate à crise do opioide.

Segundo o juiz Balkman, os promotores do processo mostraram que a J&J promoveu analgésicos de forma enganosa, levando cidadãos à dependência de drogas comercializadas, a terem síndrome de abstinência e a morrerem por overdose. A situação do estado de Oklahoma é dramática: desde o ano de 2000, cerca de 6 mil pessoas teriam morrido por overdose de opioides, segundo procuradores do estado.

O valor da multa estabelecida pelo Poder Judiciário ficou muito aquém daquele que analistas que acompanham a Companhia esperavam, já que o estado de Oklahoma pleiteou US$ 17,2 bilhões, a serem desembolsados pela J&J ao longo de duas a três décadas. O preço das ações da Companhia, após a condenação, subiu cerca de 2% e a percepção é que a multa ficou muito aquém de um valor que deveria ter sido bem mais elevado.

A J&J recorrerá da decisão. Sua advogada Sabrina Strong declarou, em entrevista coletiva do dia 27, que a Companhia recorrerá ao Tribunal Superior de Oklahoma contra a decisão e, se necessário, à Suprema Corte dos EUA. Ela afirmou que a J&J tem fatos e argumentos jurídicos favoráveis à sua visão do caso, a serem incluídos na petição ao Tribunal Superior. Alegará, por exemplo, que não é responsável pela criação da crise do opioide em Oklahoma ou nos EUA. Alegará ainda que os responsáveis por trazerem opioides para os EUA são contrabandistas da fronteira com o México.

Ainda de acordo com a advogada Sabrina Strong, na ação contra a J&J, o estado de Oklahoma não apresentou qualquer testemunha que acusasse a Companhia de lhe causar danos; tampouco levou ao julgamento qualquer médico que tivesse prescrito a substâncioa Fentanyl, opioide produzido pela subsidiária Janssen Pharmaceuticals. Mas a Procuradoria-Geral de Oklahoma não acusou a J&J de causar danos a pacientes específicos ou de aliciar médicos; acusou-a de causar danos à comunidade como um todo, violando a “Lei da Perturbação Pública” (Public Nuisance Law) estadual.

Assim, o que será discutido no Tribunal Superior de Oklahoma – ou na Suprema Corte dos EUA – é a violação da Public Nuisance Law. Para o juiz Thad Balkman, o marketing enganoso da J&J criou uma perturbação pública em Oklahoma, tendo a J&J colaborado para a criação da epidemia do opioide em Oklahoma e nos EUA. O rumo que o caso tomar impactará mais de 2 mil processos que tramitam no Poder Judiciário dos EUA contra fabricantes de opioides.

Opioides são compostos químicos psicoativos, que têm efeito analgésico, reduzindo dores; entretanto, eles produzem efeitos farmacológicos parecidos com os do ópio ou de substâncias contidas no ópio. O uso de opioides pode produzir vários efeitos colaterais indesejáveis ou mesmo mortais: sedação, euforia, dependência, síndrome de abstinência se o uso do opioide for interrompido bruscamente, overdose e morte.

De acordo  com o Relatório Mundial de Drogas das Nações Unidas, divulgado em Viena, Áustria, no dia 25 de agosto, cerca de 4% dos cidadãos dos EUA consumiram algum tipo de opioide ao longo do ano de 2017, sendo que 47.600 pessoas morreram de overdose devido ao uso dessas drogas, isto é, 67,8% de um total de 70.237 óbitos pela mesma causa. De acordo com a italiana Angela Me, especialista responsável pelo Relatório, a ocorrência de overdose por opioides nos EUA alcançou proporções de epidemia, existindo ainda evidencias de problemas com o uso dessas substâncias na Comunidade Europeia.

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