domingo, 18 de agosto de 2019

BR Distribuidora: riscos societários no horizonte?


A recente privatização da BR Distribuidora no âmbito do mercado de capitais, sem grupo de controle no momento inicial, estimula o acompanhamento desta Empresa, que fez sua oferta inicial de ações na B3 (Bolsa de Valores) em 2017. Este constitui-se em um estudo de caso dos mais interessantes que se apresentam aos interessados em governança corporativa.

No novo contexto da organização, um dos temas mais interessantes aos interessados é a compreensão dos seus riscos percebidos no momento atual. Quais são os fatores de risco relacionados à BR Distribuidora? O documento denominado Formulário de Referência, publicado no dia 6 de agosto, discorre sobre 11 fatores, relacionados a:

1.      Companhia.
2.      Controlador, direto ou indireto, ou grupo de controle.
3.      Acionistas.
4.      Controladas e coligadas.
5.      Fornecedores.
6.      Clientes.
7.      Setores da economia nos quais a Companhia atua.
8.      Regulação dos setores em que a Companhia atua.
9.      Países estrangeiros onde a Companhia atua.
10.  Questões socioambientais.
11.  Questões macroeconômicos.

Para cada fator de risco, o FR detalha as principais ameaças externas e internas ao negócio; analisar esses riscos ajuda a entender as principais preocupações que podem preocupar investidores em ações da Companhia. E a perceber que vários são os públicos stakeholders que podem impactar o futuro da Empresa.

No que tange aos riscos societários, destacam-se, na relação acima, os fatores de risco 2 e 3 (destacados), respectivamente relacionamentos ao controlador ou grupo de controle (2) e aos acionistas (3). O fator de risco 4, relacionado a controladas e coligadas, não é aqui comentado, haja vista que o FR considera que está contemplado pelo conjunto de fatores da relação acima.

Com respeito ao fator de risco 2, de acordo com o FR, a Companhia entende que não está exposta, atualmente, a qualquer controlador ou grupo de controle. Vale lembrar que com a privatização, a Petrobrás passou a deter 37,5% do capital da Companhia, estando os 62,5% restantes em mão de investidores do mercado de capitais. 

Já no que concerne ao fator de risco 3, o FR aponta incertezas:

1) A Operação Lava Jato e outras investigações podem revelar novas situações danosas à Petrobras e produzir instabilidade no ambiente político e na defesa de litígios.

2) A Petrobrás (leia-se União), acionista controladora da Petrobrás, pode ter interesses conflitantes com os interesses dos acionistas da BR Distribuidora, perseguindo objetivos econômicos e empresariais que podem impactar a Companhia.

3) A BR Distribuidora não tem um sócio controlador (majoritário), o que pode torná-la susceptível a alianças entre acionistas, conflitos entre acionistas e outros eventos que podem ocorrer quando inexiste um controlador ou grupo de controle.

Entendemos que nos próximos anos, três serão, de forma simplificada, os grupos de sócios da BR Distribuidora:

Grupo 1 – sócios privados do mercado de capitais com poder de união entre si. Segundo matéria publicada pelo jornal Valor Econômico (Privatização da BR Distribuidora põe R$ 8,5 bi no caixa da Petrobras, 2/8), grandes gestoras de recursos, independentes ou ligadas a bancos, entraram com força na oferta pública de ações da BRD. Em menor medida, investidores estrangeiros compraram ações da Companhia, assim como outros agentes. É muito possível que parte dos novos sócios busque formar um grupo que possa influir, de maneira assertiva, nas decisões estratégicas da Companhia.

Grupo 2 – Petrobrás. Sobre este grupo unitário, cabe uma reflexão: a BR Distribuidora, cujo nome poderá mudar no futuro, integra uma cadeia de produção, transporte e distribuição de combustíveis fundamental à economia do Brasil. E um dos players mais relevantes dessa cadeia é a Petrobrás; mesmo não mais controlando a BRD, a Petrobrás terá força na estrutura societária da Companhia, em função dos 37,5% que detém.

Grupo 3 – demais sócios não integrantes dos grupos 1 e 2.

A governança corporativa da nova BR Distribuidora será pautada pelos relacionamentos entre esses grupos, caracterizado por assimetria de poder entre os sócios. 

Provavelmente, os sócios do grupo 1 se organizarão para influenciar as decisões da Companhia, conforme dito. Será possível que eles consigam formar um grupo de controle, nos termos da Lei das Sociedades Anônimas (6.404, 15/12/1976 e suas revisões)? Sobre o sócio Petrobrás, suas decisões dependerão, fundamentalmente, do grupo de poder instalado em Brasília, no âmbito do Poder Executivo. E quanto aos sócios do  grupo 3? Parte acompanhará os fatos e parte procurará outra oportunidade de investimento no mercado.

Diante do quadro exposto, e considerando os riscos que o Formulário de Referência identifica – especialmente no item 2 anteriormente apresentado –, a governança da Petrobrás Distribuidora tende a ser delicada. Por que? Ocorre que as agendas dos sócios dos grupos de sócios 1 e 2 poderão ter interesses bem diferentes. E divergentes. Acompanhemos os fatos.