sábado, 10 de agosto de 2019

Brumadinho: CPI’s da Câmara e da Almg, identificação de vítimas e depósito da Vale

Foto: Isac Nóbrega/PR

As CPIs da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa de Minas Gerais prosseguem em suas atividades. A identificação de vítimas segue em Minas Gerais. A Vale depositou R$ 400 milhões a título de reparação coletiva a Brumadinho.

CPI da Câmara

A CPI da Câmara dos Deputados se reuniu nesta terça-feira (6), pela primeira vez, após o recesso dos parlamentares. A reunião durou cerca de 16 minutos e deliberou a prorrogação dos trabalhos da Comissão por mais dois meses. Assim, tendo sido criada em 25 de abril, a CPI terminará seus trabalhos em 25 de outubro, nove meses após a tragédia.

Na quinta-feira (8), a CPI se reuniu para ouvir três pessoas convocadas para depor: o engenheiro geotécnico Armando Mangolim, o ex-funcionário da Vale Lucas Brasil e o engenheiro consultor Paulo César Abrão. Lucas Brasil foi responsável por receber o Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração, preparado pela Walm Engenharia.

A convocação de Lucas Brasil está relacionada à hipótese de falha no Plano de Ação. Para o deputado Rogério Correa, é fundamental esclarecer o conteúdo do Plano, bem como sua aprovação pela Vale. Segundo Correa, o Plano já apontava que o eventual rompimento da barragem destruiria áreas industriais da empresa, o restaurante e a área administrativa. Além disso, houve o caso de pessoas que seguiram rotas de fuga e morreram, bem como de outras que não o fizeram e sobreviveram.

CPI da Almg

A CPI da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Almg) teve atividades na quarta (7) e quinta-feira (8), abrangendo a discussão de acordos para beneficiar vítimas do rompimento da Barragem, e o depoimento do presidente da Fundação Renova, responsável por implementar ações corretivas relacionadas ao rompimento da barragem de Mariana, ocorrido em 2015.

Na quarta-feira (7), a CPI discutiu o termo de compromisso entre a Defensoria Pública de Minas Gerais e a Vale S/A, o qual tem embasado acordos individuais para reparar os danos decorrentes da tragédia. Os membros da CPI ouviram representantes da Defensoria Pública, do Ministério Público, da Vale e dos atingidos pelo crime ambiental.

Para o representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) Joceli Jason Andrioli, acordos individuais e extrajudiciais prejudicam a organização das pessoas atingidas e o andamento de ações coletivas em curso no Poder Judiciário.  Segundo Andrioli, o acordo entre a Defensoria Pública e a Vale foi feito às pressas, beneficiando mais a Vale do que os atingidos.

Antônio Lopes de Carvalho Filho, defensor público do Estado de Minas Gerais, argumentou ter sido necessário criar um modelo alternativo de reparação das vítimas, a fim de agilizar o atendimento e evitar a espera de indenizações ao longo de anos, conforme ocorreu no caso do rompimento da Barragem de Fundão, ocorrido em Mariana no ano de 2015.

Ainda na reunião do dia 7, o relator da CPI, deputado André Quintão (PT), adiantou que o relatório final dos trabalhos deverá apontar medidas para monitorar as ações de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem.

Na quinta-feira (8), representantes da Fundação Renova, entidade ligada ao rompimento da barragem de Mariana (MG) foram ouvidos pela CPI da Almg. Roberto Waack, presidente da Fundação, apresentou suas considerações sobre o trabalho da Entidade.

Na mesma sessão citada, Thiago Alves, diretor do MAB, afirmou que a Fundação Renova não cumpre os acordos estabelecidos em Termo de Conduta firmado. Alves ainda que afirmou que a Renova é um "braço político e publicitário" da Vale e Samarco e que precisa executar 42 programas, mas concluiu apenas dois: o de cadastro e o de indenização mediado - este último, mediado por essas empresas. O diretor ainda apontou a demora nas reparações, a exemplo das casas dos atingidos: há quatro anos discute-se a questão de 225 casas de reassentamento em Bento Rodrigues.

Presente à sessão, Guilherme de Sá Meneghim, promotor de justiça de Mariana, qualificou a Fundação Renova de forma muito negativa. Para o promotor, não vale a pena instituir uma entidade que tem sido "um desastre" para a comunidade atingida.

O deputado André Quintão, relator, afirmou que a sessão da quinta-feira foi importante para que se saiba o que evitar no futuro. Segundo ele, são necessárias "diretrizes de reparação integral", mas por meio de um "modelo efetivo", o qual produza resultados mais ágeis e integrando os municípios atingidos.

A Fundação Renova emitiu nota explicando que até o mês de julho, foram destinados cerca de R$ 6,26 bilhões a ações de reparação e compensação de danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. Explica ainda que a construção de residências e bens coletivos para os habitantes de Bento Rodrigues e o início das obras de infraestrutura de Paracatu do Baixo foram iniciadas e mobilizarão estimados 4 mil  trabalhadores no auge dos trabalhos.

A CPI tem a expectativa de apresentar e votar um parecer final sobre o rompimento da barragem de Brumadinho até o dia 12 de setembro.

Identificação de vítimas segue com dificuldades

Conforme informa o G1, há pouco mais de um mês não se identificam pessoas mortas no rompimento da barragem de Brumadinho. Até a quarta-feira (7), pode ser feita a identificação de 248 corpos, havendo ainda 22 pessoas desaparecidas. Nos meses de junho e julho, houve 70 reconhecimentos de pessoas que perderam as vidas por meio de testes de DNA, mas estas já haviam sido reconhecidas previamente. A Polícia Civil segue recebendo fragmentos de corpos para identificação das equipes de busca.

Vale deposita R$ 400 milhões para Brumadinho

No dia 2 de agosto, sexta-feira, a Vale fez um depósito de R$ 400 milhões, a título de pagamento de danos morais coletivos à comunidade de Brumadinho, adiantando a data do depósito, que seria feito no dia 6. Este é o maior valor pago por uma entidade para o ressarcimento de danos coletivos no Brasil, equivalente a 25% do PIB bruto do Município. A destinação dos recursos não está definida, mas espera-se que reduza o sofrimento da população impactada pelo rompimento da barragem de Córrego do Feijão. Familiares das vítimas esperam que o dinheiro seja aplicado em atividades que produzam retorno para as pessoas impactadas pelo desastre.