domingo, 30 de junho de 2019

Por que não privatizar fortalecendo o mercado de capitais?


No dia 6 de maio deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o Poder Executivo pode vender empresas subsidiárias de empresas estatais sem a necessidade de lei específica para autorizar tal medida, e ainda, sem a necessidade de processo licitatório. O mesmo não vale para empresas matrizes, cuja venda necessitará de autorização do Poder Legislativo e de licitação.

A decisão da Suprema Corte, justificada pelos seus defensores como favorável à maior celeridade do processo de venda de empresas, em um primeiro momento, remeteu à Petrobrás, já que no mês de maio o ministro Edson Fachin havia suspendido a venda de uma subsidiária, a Transportadora Associada de Gás (TAG). A decisão do STF tornou desnecessária a suspensão do ministro Fachin, devidamente invalidada.

Dada a decisão do STF, e refletindo sobre a hipótese de que privatizar parte das empresas subsidiárias de estatais no Brasil seja algo interessante para o País, agregando recursos ao caixa do Estado, indagamos: como fazer tal privatização?

A venda da propriedade de grandes empresas no País pode ser feita, de maneira resumida, de duas formas:

1) Por meio da alienação de ativos para grandes investidores, os quais assumem o controle da empresa vendida e a responsabilidade por sua governança e operações. Aqui, destaca-se que o controle da organização vendida será definido e que a condução dos negócios ficará a cargo dos profissionais indicados pelos novos controladores ou pelos próprios.

2) Via mercado de capitais, de maneira que muitos brasileiros e mesmo investidores estrangeiros adquiram ações de companhias privatizadas. Neste formato, a privatização pulveriza o capital da empresa vendida, que passa a ter mais acionistas, tornando-se eventualmente uma corporation sem controle definido.

Qual é o melhor caminho?

A nosso ver, o segundo caminho deveria ser a opção mais indicada. E por que?

Identificamos neste breve artigo três razões principais para esta opção, sem a pretensão de esgotar o assunto. A primeira nos parece óbvia: fortalecer o mercado de capitais nacional, instrumento absolutamente importante para fortalecer uma economia capitalista, para o financiamento de planos empresariais. Quando mais empresas ingressam neste mercado, mais robusto este se torna como ferramenta de financiamento, oferecendo-se ainda à parcela da sociedade brasileira disposta a investir em ações mais oportunidades de investimento.

A segunda razão pela qual privatizar via mercado de capitais é melhor corresponde ao maior nível de transparência do processo de venda. A venda de subsidiárias tenderia a ser mais transparente para a sociedade, haja vista que a realização de uma oferta inicial de ações (initial public offering ou IPO), muito provavelmente feita no Novo Mercado, o nível mais alto de governança corporativa da bolsa de valores B3, passaria pelo escrutínio de analistas e profissionais de investimento do mercado de capitais. Estes se debruçariam sobre os fundamentos da empresa com ótimo nível de profundidade; a venda direta para grupos privados, especialmente se feita sem um processo licitatório, dificilmente terá o nível de transparência requerido pelos agentes do mercado de capitais.

A terceira razão para defender a privatização via mercado de capitais é a democratização do capital. Sabemos que o Brasil é um país pautado por elevada concentração da propriedade de suas empresas, pequenas, médias e grandes. Essa concentração de propriedade também caracteriza aquelas com ações negociadas na B3, a bolsa de valores. A pulverização do capital de empresas privatizadas ajudaria a democratizar sua propriedade.

Nos anos noventa, o governo Fernando Henrique Cardoso privatizou diversas empresas estatais e, infelizmente, perdeu-se ali a grande oportunidade de fortalecer o mercado de capitais nacional, já que tais privatizações foram feitas para grupos econômicos. Em nossa visão, a privatização de uma subsidiária estatal, se realmente necessária, ao ser viabilizada via mercado de capitais, é muito interessante para os cidadãos brasileiros que sejam acionistas potenciais e de fato de empresas – e para o País.