quinta-feira, 25 de abril de 2019

Ativismo societário: indígenas compram ações de companhia para influenciar decisões


Índios guaranis de São Paulo compraram ações da maior empresa de operação ferroviária do Brasil, a Rumo Logística, com o propósito de apresentar denúncias sobre a administração da companhia ao conjunto dos seus sócios. A Rumo tem a concessão da Malha Ferroviária Paulista e duplicou o trecho Itirapina-Cubatão, destinado ao transporte de cargas entre litoral e interior.

A duplicação do trecho citado requer que a Companhia cumpra vários condicionantes ambientais e indígenas, como a construção de casas e de uma ponte, a criação de locais para cultos religiosos, de hortas comunitárias e a compra de microtratores. A obra impacta estimados 5 mil índios guaranis que habitam nos municípios de São Paulo, Mongaguá, Itanhaém e Praia Grande (SP), em área de Mata Atlântica ainda preservada no Estado.

Durante a assembleia geral ordinária (AGO) da Companhia, ocorrida nesta quarta-feira, 24 de abril, os indígenas leram uma carta denunciando a falta de cumprimento de medidas ambientais e de proteção aos seus direitos. Segundo eles, das 101 atividades previstas para mitigar os problemas ambientais e com indígenas, 72 encontram-se completamente paralisadas no momento. Além disso, eles reclamaram do barulho de trens que atravessam suas aldeias, do perigo de atropelamento por trens e da fuga de animais. Ainda segundo os indígenas, a Rumo não tem se mostrado disposta a dialogar, tendo frustrado cinco reuniões de mediação promovidas pelo Ministério Público.

A Rumo, por seu turno, informou, em nota a veículos de imprensa, como a Folha de São Paulo e o Valor Econômico, que tem feito a sua parte normalmente, e que em julho de 2018, teria sido informada, de maneira unilateral, que o Comitê Interaldeias pretendia receber as verbas direcionadas às ações e assumir sua execução. Na mesma nota, a Rumo alegou não ter garantias de que o Comitê Interaldeias implementará as ações com a qualidade requerida, esperando que a Funai e o Ibama ajudem a assegurar a devida implementação.

A aquisição de ações de empresas para buscar produzir mudanças na administração, conhecida como ativismo societário, é pouco utilizada no Brasil. No caso de indígenas, esta é a primeira vez que algo assim ocorre. Eles adquiriram seis ações da Rumo, ao preço estimado de R$ 17,00 cada ação e esperam, com sua iniciativa, que a administração da Companhia atenda ao seus pleitos.

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