quarta-feira, 8 de maio de 2019

Remuneração de dirigentes: Justiça reverte decisão anterior e reduz transparência para os investidores


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que regulamenta o mercado de valores mobiliários nacional, editou em 2009 a Instrução CVM 480/2009, estabelecendo que as companhias com ações em bolsa de valores devem publicar as remunerações de seus respectivos dirigentes, informando os valores mínimo, médio e máximo recebidos por diretores e conselheiros de administração e fiscal (anexo 24, item 13.11 da Instrução).

Em 2010, o Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef) do Rio de Janeiro conseguiu, junto ao Poder Judiciário, que essas informações não fossem prestadas. A decisão foi tomada no âmbito do STJ, via liminar do ministro Castro Meira. E em 2018 – cerca de oito anos após – o TRF2 validou a regra da CVM, acatando a argumentação da Comissão. Na ocasião, o relator do caso no Tribunal, desembargador federal Gilherme Diefenthaeler, manifestou o seu entendimento de que a Instrução CVM 480 era coerente com o poder de fiscalização do Regulador.

Entretanto, o caso teve nova reviravolta e desfavorável à transparência: no dia 24 de abril, o Ibef do Rio obteve nova vitória no Tribunal de Justiça que, por meio de seu vice-presidente José Antônio Lisbôa Neiva, acatou pedido do Instituto de suspender a decisão de 2018 até que o assunto seja decidido, de forma definitiva, pela Justiça, por meio do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF). O prazo para a divulgação das informações pelas empresas é 31 de maio e, portanto, a nova decisão ocorre quando se aproxima o momento de divulgação do Formulário de Referência.

A notícia não agradou aos investidores do mercado de capitais, que entendem ser necessária maior transparência quanto às quantias que ganham dirigentes empresariais pelo trabalho que executam. Conforme observa o editor do Blog da Governança Renato Chaves, a decisão mais recente do Poder Judiciário é um retrocesso que resulta em menor transparência das empresas.

A divulgação da remuneração de dirigentes tem sido um tema polêmico no Brasil e em outros países. Seus defensores alegam a necessidade de transparência, especialmente considerando que várias empresas privadas têm negócios com organizações do estado – esta teria sido a principal razão da primeira vitória da CVM na Justiça. Já quem defende a tese oposta busca alega a necessidade de preservar a vida pessoal e a segurança dos dirigentes.

A ocultação de informações sobre rendimentos de dirigentes tem outro aspecto importante: o da forte assimetria de rendimentos que pode ocorrer entre os proventos desses profissionais e os de trabalhadores com menores salários na pirâmide organizacional. Tal assimetria pode revelar disparidades muito grandes entre os maiores e os menores rendimentos e, por vezes, é apontada de onde menos se espera.

No dia 21 de abril, Abigail Disney, uma das herdeiras da Disney, nos EUA, por meio da rede social Twitter, criticou o rendimento do principal executivo da Companhia, Bog Iger, que teria recebido cerca de R$ 260 milhões em 2018. Em várias postagens, Abigail afirmou que os rendimentos de Iger e de outros dirigentes deveriam ser reduzidos em 50%, a fim de que a diferença seja usada para aumentar a remuneração dos outros empregados, alguns dos quais não estariam conseguindo comprar remédios.

Sob o prisma dos investidores do mercado de capitais, um dos instrumentos mais importantes para o desenvolvimento de um País, transparência nessa questão é muito importante, especialmente para que se possa avaliar a eficácia da administração, vis-à-vis dos resultados alcançados. Um exemplo que pode ser citado de grande transparência é o da Alemanha onde, desde meados de 2005, as remunerações individuais de cada membro da diretoria de uma empresa com ações em bolsa são informadas ao mercado. Mas a polêmica em outros países existe, com frequentes questionamentos de investidores, em assembleias de acionistas, quanto às causas pelas quais as empresas omitem o que pagam aos seus dirigentes.

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