terça-feira, 15 de outubro de 2019

O que já aconteceu que poderá mudar o futuro? – a visão de Peter Drucker


Projetar o futuro é uma das atividades mais importantes dos investidores, analistas e profissionais de investimento dos mercados de capitais e das empresas por eles acompanhadas. Afinal, o valor econômico de uma empresa está no seu futuro, refletido nos fluxos de caixa livres projetados, correspondentes à diferença entre as receitas e os gastos estimados (despesas + investimentos), e também refletido no custo de capital esperado.

Ainda que os focos de projeção sejam distintos e fortemente impactados, no caso dos agentes do mercado, pela assimetria informacional entre estes e quem administra o negócio, é do futuro projetado nas planilhas financeiras dos públicos citados que emerge o valor econômico empresarial. E no caso específico das empresas, projetar o futuro significa planejar.

No livro Administrando em tempos de grandes mudanças, de 1997 e absolutamente atual, o professor Peter Drucker (1909-2005) apresenta, entre outras reflexões sobre administração, um pequeno ensaio sobre o planejamento para a incerteza. Aqui, cabe um ponto de atenção: ao longo de sua vida, Peter Drucker foi muito admirado por públicos corporativos, por trazer insights novos que estes consideravam condizentes com a o futuro percebido.

Nascido na Áustria e falecido nos EUA, Peter Drucker mostrou uma visão peculiar sobre como planejar e sobre muitas outras questões ligadas à administração de negócios. Para ele, ao raciocinarem em bases tradicionais, os planejadores costumam perguntar: o que é mais provável que aconteça no futuro? Entretanto, em sua visão, a pergunta certa a ser feita é outra: o que já aconteceu que criará o futuro?

Drucker prossegue, complementando a pergunta essencial acima com outras, que deveriam, em seu entendimento, constar na agenda dos planejadores estratégicos:

1 - O que os fatos consumados significam para o negócio?

2 - Que oportunidades eles criam?

3 - O que ameaçam?

4 - Quais mudanças eles exigem na estrutura, nas metas, nos serviços e nas políticas empresariais?

5 - Quais mudanças eles tornam possíveis e vantajosas?

O professor exemplifica seu pensamento citando os japoneses, que perceberam e exploraram a tendência de gastos com produtos eletrônicos de entretenimento – rádio, televisão, audiocassetes, videocassetes e outros , após a Segunda Grande Guerra Mundial, ganhando muito dinheiro em função dessa percepção adiantada em relação aos concorrentes.

Um questionamento apresentado pelo professor Drucker no ensaio sobre a incerteza, de interesse para os mercados financeiros e de capitais, diz respeito às pessoas ditas idosas: será que elas realmente não poupam? A realidade pode estar apontada em outra direção. Aliás, o conceito de pessoa idosa tem se tornado a cada dia que passa mais fluido, em vista da melhor saúde e aumento do tempo estimado de vida das pessoas outrora assim consideradas.

O cerne das ponderações de Peter Drucker é: planejar para a incerteza exige fazer uma leitura crítica do passado e do presente para entender a partir de quais fatos já consumados ou a caminho da consumação se pode identificar forças e fraquezas e criar oportunidades. Esta é uma das lições relevantes deixadas pelo pensador, uma das suas melhores pérolas. Faz sentido.

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Mônica Mansur Brandão