sexta-feira, 14 de abril de 2017

Caso Virgin: por que entrar e sair da Bolsa de Valores?


Nascido em Londres em 1950, Richard Branson iniciou sua carreira empresarial aos 15 anos, por meio da criação da revista Student, seu primeiro empreendimento. O autor relata, no livro Acredite em você mesmo e vá em frente (2006), a fórmula que fez essa publicação florescer: planejamento e persistência. Branson afirma que ele e seu colega de escola Jonny Gems passaram dois anos, por ele considerados muito divertidos, escrevendo centenas de cartas com oferta de espaço de propaganda, além de também tentaram entrevistas com pessoas famosas, estratégias que terminaram oir funcionar.

Apoiado pelos pais, Branson deixou a escola para cuidar da revista e acampado com Gems no porão da casa dos pais de seu amigo, passou a cuidar exclusivamente do empreendimento. Os jovens sócios conseguiram entrevistas com pessoas famosas como os cantores John Lennon e Mick Jagger e os atores Vanessa Redgrave e Duddley Moore, tendo sido os primeiros a vender discos a baixo preço pelo correio; com o tempo, passaram a vender discos em múltiplos pontos em várias cidades da Inglaterra. O negócio prosperou e a Virgin Music foi alcançando cada vez maior sucesso.

Outro capítulo interessante da trajetória de Branson diz respeito à criação de uma companhia aérea. Em 1977, o empresário teve um vôo para Porto Rico cancelado e fretou outro, por dois mil dólares, dividindo esse valor pelo número de interessados, o que resultou no custo de 39 dólares por pessoa. Pedindo uma lousa emprestada, nela escreveu: Virgin Airways, 39 dólares por pessoa. Vôo de ida para Porto Rico. Anos depois, em 1984, o empresário recebeu a proposta de um novo negócio: criação de uma companhia destinada a fazer vôos entre a Inglaterra e os EUA. A lembrança da história do fretamento e o modelo de negócio proposto impressionaram Branson e, após fazer pesquisas e enfrentar as opiniões contrárias aos seus planos, ele criou a Virgin Atlantic. Tornar a empresa um negócio atrativo não foi fácil, em função da regulamentação.

O livro de Richard Branson apresenta diversas outras passagens interessantes, abrangendo as aventuras de seu autor por ar e mar, em geral, corridas de balão e de barco consistentes com a sua personalidade afeita a desafios. Mas uma das mais interessantes diz respeito à abertura e fechamento de capital do grupo, narrada pelo empresário. Em 1986, a Virgin era uma das maiores empresas privadas da Grã Bretanha, com quatro mil funcionários e as vendas tinham crescido 60% no ano anterior. Branson foi aconselhado a vender ações para o público; dois de seus sócios não apreciaram a ideia, apontando o risco da perda de controle vis-à-vis do perfil pessoal do empreendedor. Pressionado por banqueiros e com o olhar voltado ao sucesso da abertura de capital de empresas como a Body Shop, de Anita Roddick e outras, o empresário foi em frente.

Segundo Branson, cerca de 60 mil pessoas manifestaram interesse nas ações da Virgin por correio. Filas se formaram na City Londrina, com muitos desejando comprar pessoalmente as ações da empresa. Alguns diziam que estavam abrindo mão de suas férias para investir na empresa; outros, que estavam colocando suas economias baseadas na confiança em Branson. Mas apesar desse início emocionante, não demorou muito tempo para o empresário detestar o novo sistema. 

Ao invés de reuniões informais com seus sócios em sua casa-barco, agora tinha que conviver com um conselho de administração e essa convivência incluía aspectos como aguardar a reunião mensal para tomar decisões relevantes, conviver com conselheiros que não tinham bom conhecimento do negócio de música e ouvir críticas sem fundamentação profunda sobre artistas que desejaria contratar.Acostumado a tomar decisões de forma rápida, o empresário se sentiu tolhido.

Quando as ações da Bolsa de Valores começaram a cair, ainda que não por sua culpa, Richard Branson tomou uma decisão: recomprar as ações e trazer a empresa ao status inicial. A decisão foi implementada pelo valor de 182 milhões de libras e Branson afirma que no dia em que voltou a ser dono de suas ações, sentiu-se aliviado e, novamente, senhor do seu destino.