Em 1997,
J. Rogers Hollingsworth e Robert Boyer, no artigo denominado Coordination of economic actors and social systems of
production, integrante do livro Contemporary capitalism – the
embeddeness of institutions –, coordenado por esses autores, explicam que uma
economia capitalista opera por meio de um conjunto de estruturas ou mecanismos
de coordenação de atividades econômicas, a saber: empresas (ou firmas,
palavra muito usada em economia),
mercados, redes, associações, comunidades e Estado entre
outros.
A
coordenação acima citada costuma ser chamada de governança, em um sentido
obviamente muito mais amplo do que o de governança corporativa, restrito ao
ambiente organizacional. Ademais, no capitalismo, todas as estruturas
mencionadas têm papéis ou funções a desempenhar, visando aumentar a confiança
das pessoas, reduzir os custos das transações e tornar a economia mais
eficiente. Assim:
1) As empresas ou firmas devem
produzir os bens e serviços de que a sociedade necessita para o seu conforto e
bem estar, fazendo jus, em contrapartida, a uma remuneração.
2) Os mercados, ambientes de trocas entre agentes que transacionam produtos e serviços, devem favorecer as transações citadas, mitigando riscos. São exemplos o mercado de flores de uma região e o mercado de ações de uma região ou país.
2) Os mercados, ambientes de trocas entre agentes que transacionam produtos e serviços, devem favorecer as transações citadas, mitigando riscos. São exemplos o mercado de flores de uma região e o mercado de ações de uma região ou país.
3) As redes são estruturas constituídas por vários agentes, quando essa integração é vantajosa para a economia. Como exemplos, menciona-se uma montadora de veículos e seus respectivos fornecedores de autopeças.
4) As associações representam interesses de grupos específicos, como os sindicatos patronais e de trabalhadores.
5) As comunidades aproximam, de forma menos estruturada, pessoas com interesses comuns, a exemplo das comunidades físicas e daquelas virtuais da internet.
6) Quanto ao estado, este cria as chamadas regras do jogo e, ao menos conceitualmente, assegura seu cumprimento (enforcement). Além disso, presta serviços públicos relevantes, em várias frentes.
Sobre
as estruturas em questão, se por um lado elas são necessárias, por outro lado,
são imperfeitas, conforme afirmam Hollingsworth e Boyer. Empresas podem ser
lentas para reagir a mudanças, muito burocratizadas, ineficientes e injustas
com seus públicos stakeholders. Redes podem admitir grande desequilíbrio de
poder entre integrantes. Associações podem ser excessiva ou fracamente focadas
nos interesses de seus representados. Comunidades podem ser frágeis e incapazes
de gerar produtos e serviços. O estado pode favorecer interesses específicos,
em detrimento do coletivo, além operar de forma ineficaz.
Quanto
aos mercados, alguns necessitam ser regulados, para equilibrar comportamentos e
mitigar o risco da obtenção de lucros não razoáveis. Apesar de sua relevância
como uma espécie de mão invisível
regulando preços na economia, conforme a visão de Adam Smith, os mercados
falham. O livro The smartest guys in the
room, de autoria de Bethany McLean e Peter Elkind, demonstra, para o caso
da empresa Enron, que chegou a ser a mais admirada dos EUA, como as empresas e
os mercados podem falhar gravemente e como ações de marketing podem ofuscar a racionalidade.
Assumindo,
portanto, que as estruturas de governança do capitalismo falham, como torná-las
melhores? Como em um jogo de esportes, melhorando a qualidade dos jogadores, ou
seja, de cada estrutura, mas principalmente, incrementando as regras do jogo e seu cumprimento (enforcement).
Mônica Mansur Brandão.
Mônica Mansur Brandão.