sábado, 16 de abril de 2022

Conselhos de administração, diretorias executivas e decisões colegiadas (2/2)


Conselhos de administração e diretorias executivas são instâncias colegiadas. Decisões tomadas em conjunto apresentam aspectos próprios, que merecem ser estudados.

Problemas em decisões colegiadas e meios de enfrentá-los

Os contrapontos aos benefícios de decisões colegiadas, apresentados no quadro do artigo Conselhos de administração, diretorias executivas e decisões colegiadas (1/2), reaparecem no quadro a seguir, sobre forma de problemas; para cada problema, relacionam-se possíveis meios para enfrentá-los:

Decisões colegiadas: problemas possíveis e meios para enfrentá-los

Sobre o quadro anterior, pode-se afirmar:

1. Nos problemas 1 (ambiente não favorável à expressão de ideias) e 2 (ambiente com pouco espaço para diversidade), a mudança de postura e critérios daqueles com poder para promover mudanças é necessária para que exista um bom colegiado. No caso de conselhos de administração, destaca-se a relevância da diversidade.

2. Considerando os problemas 3 (discussões confusas e com problema de foco), 4 (debate que fortalece visões arraigadas e preconceitos), 5 (conflitos entre áreas), 6 (mais informações demandando mais tempo e recursos), 7 (conflitos entre ideias que se tornam conflitos entre pessoas), 8 (processo excessivamente burocrático e integrantes receosos de exporem opiniões) e 9 (indivíduos monopolizando atenções e dificultando a participação de todos), vários desses problemas, para sua prevenção ou resolução, dependem da liderança do presidente do colegiado, bem como da atuação de seus comitês e da secretaria de governança.

3. Considerando o problema 10 (percepções pessoais que prejudicam o debate), este está relacionado aos fatores que impactam decisões pessoais dos integrantes do colegiado. Destaca-se aqui, ao lado do papel do presidente do colegiado e de seus comitês, a importância do autoconhecimento dos integrantes sobre como suas percepções pessoais são afetadas e sobre as possíveis armadilhas mentais que podem interferir em seu trabalho.

As três considerações anteriores reforçam o conteúdo da primeira parte deste artigo – Conselhos de administração, diretorias executivas e decisões colegiadas (1/2).

Também se percebe, no quadro anterior, no caso de conselhos de administração, que estes necessitam substancialmente de liderança, e não apenas de seus respectivos presidentes, já que os comitês de conselhos também requerem lideranças específicas. E há que lembrar que as lideranças do presidente executivo e de seus comandados são muito importantes para resolver questões internas que podem surgir, em função do atendimento aos conselhos.

Liderar, fundamentalmente, exige trabalhar com seres humanos. Assim, do quadro anterior, resulta que os conselhos administrativos não são meras máquinas de produzir orientações para as diretorias executivas e tomar decisões. Sem deixar de reconhecer a importância de estrutura e recursos para ajudar, o trabalho dos conselhos requer forte exercício da liderança e muito esforço, a fim de favorecer as melhores decisões possíveis.

A importante questão da diversidade nos conselhos

A diversidade nos conselhos de administração tem recebido grande atenção na mídia, por meio de artigos frequentes, e pode-se afirmar que existe uma boa dose de concordância quanto à grande importância da diversidade para os conselhos. Ao mesmo tempo, ainda é pequena, por exemplo, a participação de mulheres em conselhos de administração. E vários outros públicos estão ainda distantes de participar das instâncias de poder de organizações amplamente conhecidas por seus produtos e serviços.

Neste sentido, destacamos a seguir um eloquente trecho de recente entrevista concedida pela conselheira e ex-presidente de várias empresas Deborah Patrícia Wright, na Revista RI, edição 260:

[...] Sou de uma geração precursora de mulheres no topo de grandes empresas. Há 15 anos, nós, um grupo de executivas, começamos a trabalhar com a questão da maior representatividade da mulher em todas as instancias organizacionais. É com alegria que digo: acabamos lançando a semente do WCD no Brasil – Women's Corporate Directors. No início do movimento, tínhamos uma pergunta em mente: por quê mesmo somos tão poucas? Não demoramos a ter a resposta, sob o ponto de vista masculino: porque não existem mulheres preparadas. Bem a realidade não era bem essa, faltava às executivas visibilidade, não eram conhecidas pelos tomadores de decisão na hora de escolher conselheiros. O tempo passou e hoje o WCD no Brasil conta com um banco de 260 nomes altamente qualificados. Outro trabalho importante foi o PROGRAMA DE MENTORIA PARA CONSELHEIRAS, iniciado em 2015. Esse programa PDeC - Programa de Diversidade em Conselho cresceu, criou visibilidade e hoje em sua 7ª edição é bastante disputado por mulheres com potencial de serem futuras conselheiras. E como resultado dessa longa jornada, mais recentemente a WCD lançou o programa Conselheira 101, para mulheres negras. Além da questão da mulher, há a questão étnico-racial igualmente importante e desafiadora para que se construam ambientes verdadeiramente diversos nas organizações. Trata- se de maiorias sub-representadas em posições de liderança. O objetivo maior é garantir um olhar plural e atingir a diversidade cognitiva, pois está comprovado que organizações diversas produzem melhores resultados de inovação e capturam melhor o Zeitgeist, o espírito do tempo atual. Há progresso evidente, embora ainda muito a se fazer, mas comparando com o nosso ponto de partida estamos em outro patamar e por isso sou muito agradecida e um pouco orgulhosa (DEBORAH PATRÍCIA WRIGHT, Revista RI, edição 260, Abr/2022).

Destacam-se, nas palavras da conselheira Deborah Wright, a existência de “maiorias sub-representadas em posições de liderança” – e como vimos, conselhos de administração são instâncias nas quais muito esforço de liderança é requerido.

A conselheira ainda enfatiza a necessidade de “garantir um olhar plural e atingir a diversidade cognitiva, pois está comprovado que organizações diversas produzem melhores resultados de inovação e capturam melhor o Zeitgeist, o espírito do tempo atual”. Suas palavras expressam a necessidade de que os conselhos administrativos acolham visões diferentes, não apenas em prol de resultados, mas também porque isso é representativo da evolução das organizações.

Concluímos este artigo reforçando que mais diversidade nos conselhos administrativos depende, sobretudo, de vontade política de sócios das organizações, que determinam os critérios de composição dos conselhos. A caminhada é extensa, mas a direção está indicada pelos especialistas em tomada de decisões e liderança.

Mônica Mansur Brandão