sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Mery Kay e Virgin: reflexões sobre entrar e sair da bolsa


Sejam considerados os dois casos a seguir, sobre empresas que abriram seu capital em bolsa de  valores e, posteriormente, tomaram a decisão de fechar

Caso Virgin: por que entrar e sair da Bolsa de Valores

Ambos são exemplos de empresas cujos empreendedores-proprietários decidiram, em um momento da história de suas respectivas empresas, abrir o capital e listar ações em Bolsa de Valores.  Quais reflexões principais emergem desses dois exemplos?

Primeiramente, consideremos o caso Mery Kay Cosmetics: o que levou sua criadora, Mery Kay, a abrir o capital da empresa? Segundo essa relata, o propósito foi implementar as melhores práticas administrativas vigentes. E o que a levou a fechar o capital? A percepção de que o mercado de ações não se constituía em uma alavanca mas em obstáculo ao crescimento, em função do seu foco de curto prazo e das despesas com as obrigações assumidas.

Com base no exposto, quais seriam as possíveis causas profundas do fechamento de capital? A leitura do artigo Quais são os impactos da abertura do capital de uma empresa?, publicado neste Espaço Governança, fornece algumas possíveis pistas sobre esse fechamento de capital. Ora, a Mery Kay Cosmetics tinha o seu mercado de capitais próprio: os recursos de suas consultoras, que pagavam produtos comprados à vista para revenda; assim sendo, ela necessitaria dos recursos que poderia captar no mercado de capitais, ao menos na medida em que outras empresas tanto necessitam? Outra dúvida decorre da questão cultural: as culturas empresarial e do mercado se completaram, criando um casamento de interesses?   

Consideremos, neste ponto, o caso Virgin: o que levou Richard Branson, criador da Virgin, a abrir o capital? De acordo com o empreendedor, ele foi aconselhado a vender ações para o público, pressionado por banqueiros, à luz do sucesso de companhias como a Body Shop, de Anita Roddick, e outras. Mesmo assim, dois de seus sócios não gostaram da ideia, considerando o perfil pessoal de Branson. E o que conduziu ao fechamento de capital? Precisamente ele, o perfil citado; os sócios tinham razão e dentro de algum tempo, Richard Branson estava simplesmente detestando o novo sistema.

A partir dessas considerações, quais seriam as possíveis causas profundas do fechamento de capital da  empresa de Richard Branson? A leitura do artigo supracitado, novamente, fornece uma pista sobre o fechamento de capital da empresa. Aqui, a questão cultural emerge como preponderante, mas não com respeito ao relacionamento com o mercado, objeto de queixas de Mery Kay e, sim, à governança corporativa e ao processo de  tomada de decisões em um sistema de governo mais formal.   

As reflexões anteriormente apresentadas não podem ser consideradas explicações mas, no mínimo, criam perguntas pertinentes. Ao mesmo tempo, em ambas emerge a cultura, a necessidade de entendimento profundo em relação ao que ocorrerá com a empresa e sua cultura após a abertura de capital e a listagem em Bolsa de Valores. Conforme o artigo supracitado indica, há diversos benefícios em abrir o capital e operar em mercado aberto, mas se os aspectos culturais não estiverem em mente desde o início, o fechamento de capital e o retorno ao status inicial poderão ser o futuro.