O norte-americano Al Pacino é um dos maiores atores de cinema de todos os tempos. Inquestionável. Difícil dizer se seria o maior, mas certamente seu nome reside ao lado dos gigantes de todos os tempos. E um dos filmes mais importantes com a presença desse grande ator é O Advogado do Diabo – a nosso ver, um filme que pode ser lido como uma peça sobre a ética como escolha do indivíduo.
Kevin Lomax (Keanu Reeves) é um jovem advogado brilhante, movido pela confiança e pela vaidade. Nunca perdeu um caso, e seu sucesso o leva de uma cidade pequena na Flórida até Nova York, onde é contratado por John Milton (Al Pacino), sócio-fundador de uma importante firma de advocacia.
Milton é fascinante: culto, elegante, misterioso e oferece a Kevin tudo o que o mundo admira: dinheiro, status, prestígio e poder. Mas, pouco a pouco, o jovem percebe que está defendendo clientes culpados, manipulando verdades e trocando princípios por vitórias.
A esposa de Kevin, Mary Ann (Charlize Theron), definha diante da perda moral do marido. E no auge da carreira, Kevin tem a percepção de que Milton é o próprio Diabo, a encarnação da vaidade e da corrupção espiritual.
O verdadeiro julgamento não é o do tribunal, mas aquele da alma de Kevin.
O Advogado do Diabo expõe o que há de mais sutil na queda moral: o mal raramente se apresenta como mal. Vem disfarçado de oportunidade, reconhecimento e merecimento. Milton não ordena o pecado; ele o justifica. “Vaidade... definitivamente, é o meu pecado favorito.”
O espectador entende: a vaidade é o combustível das corrupções silenciosas – aquelas que começam pequenas, em nome de algo supostamente “maior”. A ética, nesse contexto, torna-se um ato de resistência. Não uma lei, mas uma escolha diária entre o aplauso e a verdade.
A metáfora da liderança tóxica
John Milton pode ser visto como o retrato da liderança tóxica: encantadora, poderosa ... e moralmente vazia. Ele não manda – seduz, não ordena – convence, não cobra – elogia. Até que o outro se venda por vontade própria.
Kevin Lomax representa o profissional moderno e capaz de se perder de bons princípios, conforme o atrativo que a ele se apresenta. É muito talentoso, mas também muito ambicioso – e cego pelo próprio brilho. Acredita que vencer é suficiente, até perceber que há vitórias que custam mais caro do que derrotas.
O filme O Advogado do Diabo, assim, torna-se um alerta sobre governança ética: quem lidera sem consciência, destrói; quem se guia pela vaidade, não por princípios éticos, perde-se no reflexo vazio do próprio ego.
O risco do recomeço...
Quando Kevin finalmente tenta se redimir, o ciclo recomeça. A tentação retorna com outro rosto, outro elogio, outro disfarce. Aparentemente, o Diabo não se cansa, uma vez que ego parece nunca dormir.
A mensagem é devastadora: o livre-arbítrio é eterno campo de batalha da ética. O inferno não seria um lugar, mas esse campo de escolha, em que o errado pode parecer o correto. A vaidade pode comprometer a escolha, a menos que a consciência se imponha e mude o jogo.
Esta é apenas uma leitura do filme O Advogado do Diabo. Existem outras, inclusive de cunho jurídico, mas fiquemos por aqui com esta breve reflexão ética.
Mônica Mansur Brandão
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