sábado, 19 de julho de 2025

Relaciomentos pessoais afetam a governança corporativa?


Na última semana, uma imagem chamou a atenção nas redes sociais: um CEO e uma executiva C-Level de uma grande empresa apareceram juntos, em clima descontraído, apreciando o show de uma banda famosa nos EUA. Captados por uma câmara, tentaram se esquivar, mas teriam sido reconhecidos e as imagens circularam amplamente por redes sociais, inclusive no Brasil. Problema: o CEO seria casado.

A cena remete a uma questão importante: até que ponto relacionamentos pessoais entre altos executivos podem prejudicar a governança das organizações?

Governança corporativa existe para assegurar que as decisões organizacionais sejam tomadas com transparência e responsabilidade perante sócios e vários stakeholders. Quando líderes de alto escalão mantêm vínculos muito próximos fora do contexto de trabalho, e isso chega ao domínio de públicos organizacionais, podem surgir preocupações e questionamentos sobre questões sensíveis, como contratações, promoções e políticas salariais entre outras.

Os relacionamentos pessoais supracitados podem ser de diversas naturezas, de grandes amizades a relacionamentos amorosos em variados níveis de intensidade. A questão que se apresenta é: pode haver conflitos de interesse não declarados e riscos para a organização?

Se o relacionamento ultrapassa em muito o plano profissional, não é impossível que decisões críticas sejam influenciadas pelos envolvidos (mesmo que inconscientemente), que as pessoas percebam favorecimento indevido (o que gera descontentamento e desconfiança) e que sejam alimentadas conversas extraprofissionais deletérias ao clima da organização (as chamadas fofocas). 

E se o relacionamento for objeto de acusações de privilégios, assédio ou tudo isso, a organização pode enfrentar ações judiciais e crises públicas. 

Como lidar com o tema, de forma profissional e humana, ao mesmo tempo?

Um primeiro caminho para esse fim é a criação de códigos de condutas éticas, com diretrizes claras que regulem interações entre líderes, ajudem a estabelecer limites e a prevenir conflitos. 

Um segundo meio é a possibilidade de comunicação de relacionamentos significativos entre executivos ao conselho de administração (ou à diretoria executiva, se não houver o conselho), de maneira a evitar surpresas. Mas jamais como imposições inconstitucionais e ilegais da empresa

Em nosso País, existem direitos fundamentais, previstos na Carta Magna e essa segunda medida, se tomada, seria por iniciativa dos envolvidos, sem imposição. Nem sempre isso parecerá factível e talvez seja essa a situação das pessoas da situação narrada inicialmente, que vivem nos EUA.

Por fim, pode-se criar mecanismos para auditar decisões sensíveis sobre contratações, promoções, bônus e outros tópicos, quando houver relações próximas envolvidas. Ocorrências indevidas, se devidamente comprovadas, podem implicar penalizações, desde que aceitáveis por lei.

Executivos são seres humanos e relações pessoais de maior proximidade são, por vezes, inevitáveis. Sob o prisma organizacional, o problema não está na convivência fora do escritório, mas na falta de mecanismos para assegurar que essas conexões não interfiram na gestão ética da organização e em decisões sensíveis.

Se a organização não tiver, em seu código de ética, disposições sobre relacionamentos entre altos executivos, talvez isso deva ser repensado. Governança robusta se faz com transparência e responsabilidade, como dito. E em um tempo de altíssima conectividade e redes sociais operando a pleno vapor, é preciso atenção redobrada e aderente ao ordenamento jurídico.


Mônica Mansur Brandão


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