sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Como as regras do jogo impactam o capitalismo?


No artigo Quais são as estruturas de governança do capitalismo?, afirmamos que uma economia capitalista se utiliza de um conjunto de estruturas ou mecanismos de coordenação de atividades econômicas ou de governança, quais sejam: empresas (ou firmas, como a economia prefere por vezes chamá-las), mercados, redes, associações, comunidades e o Estado entre outros. Todos os mecanismos citados têm virtudes e falhas e, uma vez caracterizados, pergunta-se: como as regras do capitalismo influem no ambiente desse sistema econômico? 

A resposta pode ser dada com base nos estudos do professor Douglas North que, em seu livro denominado Institutions, institutional change and economic performance – political economy of institutions and decisions (1990), propõe uma estrutura que objetiva analisar a influência das instituições ou regras do jogo sobre o desempenho econômico de uma economia e sobre as diferenças entre distintas economias capitalistas.

Segundo North, o capitalismo requer instituições ou regras do jogo, que são os restritores humanamente estabelecidos para modelar a interação humana. Tais regras estruturam incentivos nas trocas humanas, políticas, sociais ou econômicas. Mudanças institucionais, ou seja, alterações nessas regras explicam a forma pela qual a sociedade evolui ao longo do tempo e, consequentemente, são fundamentais para que se compreendam mudanças históricas. Adicionalmente, as regras do jogo podem ser formais e informais e contribuem para reduzir a incerteza, ao proverem uma estrutura para o dia a dia e as relações de troca entre seres humanos.

Nessa perspectiva, o que é cultura? Sob o prisma da visão institucional, cultura é o conjunto de regras do jogo informais criadas pelas diversas sociedades como forma de ampliar a confiança entre os agentes e de reduzir, informalmente, os custos de transação (conceituados de forma inovadora por Ronald Coase), ou seja, os custos contratuais de fazer negócios (especialmente aqueles ex post, ou seja, posteriores ao estabelecimento de contratos). Segundo North, as regras do jogo informais são ainda mais importantes do que as formais, ou seja, o que não está escrito é mais relevante do que o que está.

A importância das regras do jogo formais (leis, regulamentos, contratos e outros dispositivos formais) e informais (os ditames da cultura) e de seu cumprimento (enforcement) é de tal magnitude que determina, segundo Douglas North, as diferenças de desenvolvimento entre diferentes regiões e países do Globo Terrestre. As regras do jogo e seu cumprimento explicam por que a nação A é mais desenvolvida do que a nação B e, por suas pesquisas e insights, o pesquisador foi agraciado com o Prêmio Nobel de Economia, em 1993.

Como podemos exemplificar a visão de North com o caso do Brasil? Um exemplo a ser dado, entre muitos outros, é o das modificações feitas na Lei das SociedadesAnônimas (n. 6.404, de 15/12/1976) por meio do instrumento conhecido como Nova Lei das S/As (n. 10.053, de 31/10/2001). Érica Gorga, baseada no pensamento de North, demonstra, no artigo denominado Does culture matter for corporate governance? A case study of Brazil, de 2003, como as condições culturais específicas do contexto nacional influíram nessa revisão legal específica, evitando que fossem introduzidas modificações que produzissem maior impacto no mercado de capitais nacional.

A perspectiva cultural oferece muitas oportunidades de avaliar a governança corporativa de empresas em diferentes contextos e permeiam estudos comparativos sobre regiões como os EUA, o Reino Unido, a Alemanha, o Japão, a França, a Itália, o Brasil e outros. A análise cultural permite melhor compreender os ambientes de negócios específicos dessas nações e as formas como as empresas e demais organizações que ali operam se comportam.

Mônica Mansur Brandão