sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Em foco: o que é ética?


A palavra ética emerge do grego ethos, significando algo relacionado ao bom costume ou ao caráter. Assim, a ética corresponde a um conjunto de regras de convívio entre pessoas e/ou grupos de pessoas, decorrentes da reflexão de quem acata esses preceitos como fundamentos de conduta. Essa ética de princípios ou normativa  não é a única forma de entender os fundamentos da ética como disciplina mais ampla; ainda assim, ela é aquela reclamada, muitas vezes formalmente, pela sociedade moderna, em relação às organizações, aos grupos de interesse e aos relacionamentos. 

Com o passar do tempo, as economias se tornaram mais diversificadas e complexas, com novas modalidades contratuais e o fim do trabalho escravo, prática infamante. Por um lado, sistemas políticos absolutistas mudaram para formas mais democráticas, com eleições; por outro lado, o poder de parte dos agentes, como organizações do estado e grandes corporações, aumentou, criando a necessidade de maior equilíbrio. Adicionalmente, a tecnologia disponibilizou instrumentos de comunicação que permitem disseminar informações e acusar comportamentos em tempo real e em âmbito global, favorecendo mais transações internacionais e, concomitantemente, agregando seus riscos. 

É nesse contexto que a ética normativa se torna mais reclamada: afinal, é preciso entender as mudanças econômicas, sociais e culturais e mitigar riscos, por meio de princípios éticos. Mas se a ética normativa não é a única forma de entender o tema ética, o que mais se deve considerar? A resposta é: a ética de resultados, cujos fundamentos emergem do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel (1469-1527), escrito em 1513 e publicado postumamente em 1532. Considerado por muitos pai da ciência política, Maquiavel não foi maquiavélico, no sentido negativo muitas vezes – e erroneamente - a ele imputado. 

O autor viveu em uma Europa com monarquias absolutistas e seu trabalho deve ser contextualizado. De acordo com O Príncipe (capítulos XV a XXV), bons príncipes: são proativos e bons planejadores, criando o futuro; preparam e preservam suas barreiras defensivas (principal: o povo) e seus exércitos; escolhem com cuidado aliados e posicionam-se claramente a seu favor; transitam bem entre os poderosos e os humildes; são prudentes com as finanças, evitando ostentação; cercam-se de bons assessores, tomando cuidado com bajuladores; são flexíveis e sabem se adequar ao meio ambiente. Tudo isso e muito mais.

Ao mesmo tempo, segundo Maquiavel, bons príncipes priorizam a manutenção do Estado e a sustentação do poder. Serão implacáveis, se necessário, para o alcance de objetivos, mas sem deixar de cuidar da imagem. E serão maus, se houver necessidade, aplicando punições exemplares àqueles que os desafiarem e, na sequência, procurando entender as causas que produziram o problema e eliminá-las, mantendo o povo a seu lado e preservando sua imagem.

Contextualizando a ética de resultados aos tempos modernos, constata-se que a ética normativa ou de princípios e a ética de resultados criam o dilema entre fazer o que é certo versus fazer o que é preciso ser feito, para evitar mal maior. Estas são escolhas que se apresentam, a cada momento, a organizações, grupos de interesses e indivíduos. No caso das organizações, seus públicos relevantes ou stakeholders demandam respeito; assim sendo, a ética de princípios se torna meta a ser perseguida.