terça-feira, 26 de maio de 2020

Maior fundo de investimentos em mineração do mundo exclui Vale de sua carteira


Foram meses de deliberações e negociações, mas, ao final, três das maiores mineradoras do mundo, a brasileira Vale, a suíça Glencore e a inglesa Anglo American foram excluídas do maior fundo de investimentos mundial em mineração, o Fundo Soberano da Noruega, fundo de pensão do governo norueguês.

Contudo, o governo da Noruega é dono da mineradora Norks Hydro, além de ser também detentor 5% de participação na australiana BHP Biliton. A Hydro opera no Brasil e foi responsável pelo despejo ilegal de dejetos no Pará há dois anos. A BHP, maior mineradora do mundo, é parceira da Vale e foi considerada corresponsável pelo rompimento da barragem de Mariana. Também é uma das maiores produtoras de carvão do mundo, mas está apenas “sob observação” pelo fundo norueguês, desde 2015. Nesse caso, a preocupação ética parece estar em suspensão.

Tanto a Hydro quanto a BHP concorrem diretamente com a Vale, a Glencore e a Anglo. Enquanto a Vale explora minério de ferro no Brasil e carvão na África, Glencore e Anglo também exploram minério de ferro no País, além de serem grandes produtoras mundiais de carvão. A Glencore é parceira da CSN Mineração e a Anglo tem centenas de requerimentos para explorar minérios em terras indígenas na Amazônia. Além do Brasil, a Anglo American também explora minérios no Chile, Peru e Colômbia. No que tange à sua atuação no Brasil, a Anglo American se refere ao seu desejo de explorar terras indígenas brasileiras, inclusive de povos isolados, como “pequena sobreposição”.

A exclusão da Vale, Glencore e Anglo American da carteira de investimentos do maior fundo de pensão do governo norueguês deve ser vistade forma crítica. Com essa medida, a Noruega não deixa de atingir concorrentes diretos da Hydro e da BHP Biliton: Vale, Glencore e a inglesa Anglo American. Além disso, penalização seletiva de empresas, sob alegação de comportamento antiético, sob o prisma ético, pode ser questionável. Os pensionistas noruegueses concordariam com a penalização seletiva?

Sobre o avanço de grandes mineradoras em terras brasileiras, especialmente sobre a Amazônia, este representa risco a todo o Planeta. No artigo Amazônia e osriscos de um futuro indesejado,  Carlos Nobre, uma das autoridades mais respeitadas em climatologia no mundo, alerta que a exploração predatória da Amazônia pode levá-la não só a um processo de irreversível de savanização, mas também a se tornar o centro de uma nova pandemia, mais letal do que a do coronavírus. O que pensionistas noruegueses diriam dessa ameaça à Amazônia e da ação dos que ameaçam aquela Região?

Veja também:

Fundo Soberano da Noruega, maior do mundo, exclui Vale, Glencore e Anglo American dos seus investimentos (Revista Plurale)