sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Estratégia e visão de longo prazo interessam aos investidores em ações?


No livro The theory of the grouth of the firm (1959), a professora Edith Penrose define a firma (frequentemente, a Ciência Econômica utiliza tal palavra, ao invés de empresa) como sendo um conjunto de recursos produtivos, humanos e materiais. Tais recursos vão além de meros inputs materiais para produzir bens e serviços, pois abrangem os conhecimentos que a organização acumulou e que podem ser mobilizados em prol de objetivos. Qual é a relação do pensamento de Penrose com o tema estratégia?

Edith Penrose identificou o planejamento como fator central do crescimento das firmas, argumentando que os modelos mentais emergentes da experiência e do conhecimento determinam as bases desse crescimento. Ela teve um precioso insight: a firma reúne e combina recursos produtivos e seus produtos e serviços dependem do ambiente interno e dos conhecimento usados para sua produção. A firma seria, portanto, uma coleção de conhecimentos armazenados e passíveis de serem mobilizados em prol de objetivos. No conceito de firma de Edith Penrose, a estratégia emerge da mobilização desses conhecimentos e esta foi uma das contribuições acadêmicas mais importantes da Economia para o pensamento estratégico.

Existem muitos estudos sobre estratégia, com múltiplas abordagens e recomendamos aos interessados o livro Safári da estratégia, de Henry Mintzberg, Bruce Ahlstrand e Joseph Lampel, o qual apresenta várias teorias sobre o pensamento estratégico, identificadas a partir da compilação e análise de um considerável número de trabalhos. Lendo tal obra, pode-se constatar que asssim como governança corporativa, estratégia é um constructo, isto é, um conceito que necessita de várias teorias para ser bem compreendido. 

No sistema de governo de uma empresa, a quem cabe o nobre papel de estabelecer uma estratégia a ser implementada? No Brasil, a resposta está na legislação. De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (6.404, 15/12/76) e suas atualizações, fixar a orientação geral dos negócios da companhia é a primeira competência do conselho de administração (artigo 142, parágrafo I). O conselho de administração é uma instância de representação dos sócios; a diretoria executiva pode e deve ajudar na construção da estratégia, mas é o conselho de administração quem orienta os negócios. Assim dispõe o texto legal.

Frequentemente, as discussões sobre governança corporativa se concentram nos conflitos entre sócios (exemplo: sócios controladores x sócios não controladores), entre estes e administradores (exemplo: sócios x dirigentes de empresas) ou entre os próprios administradores (exemplo: conselho de administração x diretoria executiva). Fundamentalmente, estes são embates de poder muito importantes e que se não forem bem tratados poderão comprometer a sustentabilidade da organização.

Ao mesmo tempo, governança corporativa é muito mais do que equacionar questões de poder. No artigo Quais são as principais funções e instrumentos de governança corporativa?, relacionamos cinco funções muito relevantes de governança corporativa, entre as quais, a definição e a monitoração da estratégia, já que todas as organizações têm uma estratégia, um caminho a perseguir, mesmo quando ele não é explicitado. A estratégia é um dos temas mais importantes da agenda do governo de uma empresa. 

A estratégia interessa aos investidores em ações? Investidores tomam suas decisões de investimento com a lógica da estratégia e da visão de longo prazo?  A visão de longo prazo, no caso de empresas, é aquela que se preocupa, fundamentalmente, com resultados tangíveis e intangíveis que exigem prazos destinados à realização e à maturação de investimentos empresariais planejados. Esses resultados são alcançados quando se planeja e implementa com sucesso uma estratégia

A visão de longo prazo interessará, sim, aos investidores em ações de uma empresa, se estes também tiverem visão de longo prazo para os seus investimentos no mercado de capitais. Para esses investidores, podemos afirmar sem medo de errar: eles desejarão, sim, conhecer as grandes linhas da estratégia das empresas nas quais investem. E tomarão decisões de investimento, também, com visão de longo prazo.

Mônica Mansur Brandão