sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Em foco: como a estrutura de capital afeta o custo de capital?


A estrutura de capital, isto é, as participações (pesos) dos capitais de terceiro e próprios afetam o custo médio ponderado de capital (WACC), conforme adiantado nos posts O que são capital próprio e capital de terceiros? e O que é custo médio ponderado de capital? Neste post, ilustra-se como isso ocorre.

Seja considerada a companhia A do post O que é o fator “beta”?, para a qual são calculados o custo de capital de terceiros Kd, o custo de capital próprio Ke e o custo médio ponderado de capital WACC, para uma estrutura de capital em que o capital de terceiros representa a metade do capital total:


Se a estrutura de capital variar, tanto o custo de capital de terceiros Kd quanto o beta variarão, conforme ilustrado na tabela seguinte:



A tabela anterior é calculada para várias estruturas de capitais, ou seja, considerando que o capital de terceiros varia de 30% a 90% do capital total. O que pode ser observado?

Primeiramente, que o custo de capital de terceiros Kd bruto aumenta quando o endividamento é superior a 75%, o que significa que os emprestadores estão percebendo um maior risco na companhia.

Em segundo lugar, o beta original de 0,75 teve que ser recalculado para cada estrutura de capital, considerando as equações seguintes:

Beta desalavancado = Beta alavancado inicial / [1 + d/(d+e) inicial x (1 – ir)]
Beta alavancado = Beta desalavancado x [1 + d/(d+e) x (1 – ir)]

A expressão “beta desalavancado” diz respeito a um beta sem qualquer efeito de dívidas. Considerando os dados iniciais da companhia A, o beta desalavancado será:

Beta desalavancado = 0,75 / [1 + 50% x (1 – 34%)] = 0,56

Após a “desalavancagem” do beta inicial, o beta “desalavancado” de 0,56 é “realavancado”, caso a caso, para refletir as novas estruturas de capital estudadas. Por exemplo, para os endividamentos de 30% e 90%, os novos betas serão:

Beta alavancado para endividamento de 30% = 0,56 x [1 + 30% x (1 – 34%)] = 0,68

Beta alavancado para endividamento de 90% = 0,56 x [1 + 80% x (1 – 34%)] = 0,90

O gráfico a seguir apresenta a evolução do custo médio ponderado de capital (WACC) em função da estrutura de capital d/(d+e):


Conforme se verifica, o valor de WACC se reduz com o aumento do peso ou participação da dívida no capital total, mas até um ponto a partir do qual o valor WACC passa a crescer. No gráfico acima, a estrutura de capital que tornaria o WACC mínimo corresponde ao endividamento de 75%. A estrutura de capital que minimiza o WACC é conhecida como estrutura ótima de capital.

As empresas sempre otimizam suas estruturas de capital, minimizando o valor do WACC? Não, pois a definição da estrutura de capital leva em consideração outras variáveis avaliadas pelos sócios e dirigente de empresas, como o endividamento das firmas do setor em que elas atuam, a regulamentação existente (por vezes, ela limita o endividamento, como no caso de empresas de energia elétrica no Brasil) e a percepção de risco financeiro dos próprios dirigentes entre outras.